sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dermatite Atópica

Dermatite Atópica



A Dermatite Atópica (DA) é uma doença de caráter crônico e recidivante, clinicamente caracterizada por lesão pruriginosa (coceira), descamativa, de distribuição clínica peculiar e variável de acordo com a idade do paciente, sendo considerada o componente cutâneo do Complexo Atópico ( asma, rinite alérgica, alergia alimentar e DA).
A incidência é crescente em todo o mundo e nos EUA corresponde a 10% da população pediátrica. É causadora de grande morbidade (em casos de maior gravidade faz-se necessária a internação hospitalar), e uma grande preocupação existe em relação aos aspectos emocionais dos pacientes, que muitas vezes sofrem discriminação em seu ambiente escolar ou de trabalho, além de baixa auto-estima, devido às características das lesões. A mortalidade somente ocorre pelas complicações da doença.
Em 85% dos casos a doença se inicia nos primeiros 5 anos de vida e apenas 2% dos novos casos ocorrem após os 45 anos. Pode ter evolução benigna com remissão espontânea se a dermatite for classificada como leve, entretanto, cerca de 90% das dermatites moderadas ou graves persistem por toda a vida.
De acordo com estudos bem controlados, pacientes com DA podem evoluir com asma alguns anos depois, em até 80% dos casos. Isso demonstra a relação estreita entre as doenças alérgicas.
A dermatite atópica, como as outras doenças alérgicas (asma e rinite), tem caráter hereditário, ou seja, alto índice de casos na mesma família com antecedentes de alergia. No caso da DA, se um dos pais tem atopia (asma, rinite ou DA) a chance de um filho ter a doença é 4 vezes maior do que no restante da população; e se ambos os pais tiverem atopia, o risco aumenta para 7 vezes.         
Mas, além dos fatores individuais e genéticos, o ambiente exerce forte influência sobre a sensibilização dos pacientes e o desencadeamento de sintomas.
A origem da doença está em alterações imunológicas, enzimáticas (proteínas) e também fatores como a deficiência de determinadas gorduras, que naturalmente mantém a integridade da pele.
Os principais desencadeantes das lesões são os alérgenos ambientais (ácaros), alérgenos alimentares como os ovos, o leite de vaca, o amendoim, a soja e o trigo, bactérias como o Estafilococos e suas toxinas, fungos como Ptyrosporum, vírus e os irritantes da pele. Estes últimos incluem sabonetes, detergentes, amaciantes, extremos de temperatura (frio ou calor intensos) e umidade (clima muito seco ou muito úmido), soluções alcoólicas e adstringentes.
O diagnóstico é baseado na história de prurido cutâneo, com forma e distribuição típica das lesões: envolvimento extensor (braços e pernas) e facial nas crianças e liquenificação (espessamento da pele) e linearidade flexural (acentuação das regiões de dobras dos braços e das pernas) nos adultos. Somado a isso, a cronicidade das lesões e as recidivas freqüentes. A história pessoal ou familiar de atopia tem fundamental importância para o diagnóstico.
Além da história e quadro clínico citados, algumas provas laboratoriais podem contribuir para o diagnóstico:
Um hemograma pode demonstrar elevada contagem de eosinófilos; A dosagem de IgE sérica total geralmente está muito elevada; a pesquisa de IgE específica (CAP-system / “prick- test”) para alérgenos ambientais ( p.ex.: ácaros) e para alimentos ( leite de vaca, ovo, soja, amendoim) podem indicar alérgenos relacionados ao desencadeamento das lesões.
Lesões características de dermatite atópica em adultos e crianças.
                                                                          O tratamento deve abordar:
ü  Orientações gerais sobre a doença, para que o paciente entenda a origem e as características das lesões.
ü  Apoio psicológico: como lidar com uma doença crônica, e assumi-la frente à sociedade?(aspectos emocionais).
ü  Medidas gerais: um banho rápido e de água mais fresca, utilizando sabonetes de pH neutro, preferencialmente líquidos e somente nos locais de maior necessidade, evitando o contato com as lesões ou áreas mais ressecadas. O vestuário deve ser composto por roupas leves, não utilizando materiais sintéticos ou lã.
ü  A hidratação da pele é fundamental, uma vez que o ressecamento acarreta maior prurido. O hidratante escolhido deve ser usado em todo o corpo, imediatamente após o banho, e várias vezes ao dia.
ü  O controle ambiental deve ser realizado, quando necessário, baseando-se na história e nos exames complementares.
ü  Dietas de exclusão são perigosas, principalmente para crianças, muitas vezes decorrentes de má interpretação dos exames laboratoriais. Nunca se deve suspender um alimento se não há forte evidência clínica (relação causa - efeito) associada com exames complementares.
ü  Tratamento de infecções: muitas vezes as lesões não regridem devido a infecções bacterianas ou fúngicas, que ocorrem por alteração dos fatores de proteção da pele, ou escarificação (coçadura), fazendo-se necessária a instituição de antimicrobianos tópicos ou sistêmicos.
ü  Como tratamento farmacológico, temos a disposição os anti-histamínicos, para alívio do prurido e que também são utilizados pela ação sedativa que exercem, possibilitando maior qualidade de sono.  Os corticóides tópicos podem ser utilizados de forma controlada, em cursos curtos de 4 a 5 dias ou ainda em dias alternados, evitando a aplicação em áreas sensíveis como rosto e pescoço, reduzindo a possibilidade de efeitos colaterais da droga. Há poucos anos, foram desenvolvidas duas drogas (pimecrolimo e tacrolimo), que vem sendo usadas com ótimos resultados, mas com indicação precisa em determinada fase da DA, podendo ser aplicadas em face e outras áreas sensíveis com muita segurança. Outras drogas são utilizadas como tratamento avançado da dermatite atópica: ciclosporina, inibidores da fosfodiesterase, gamaglobulina intravenosa, micofenolato mofetil, pró-bióticos, anti-IgE em menor número de casos, reservando algumas delas para os quadros mais graves.

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